se um ola5 fosse uma coisa palpavel e PESADA dava-vos com ele na cabeça até fazerem beicinho
S i s s e s . diz:
assim sendo ainda estou a congeminar qq coisinha
S i s s e s . diz:
es mm um besta quase tao besta como eu
(a)normalidades quotidianas
É este o novo conceito que enche os nossos corações de felicidade. Porque, finalmente, temos uma palavra para definir o nosso estado de emigrantes num país onde fazer Erasmus não podia ser mais diferente, vá.
Foi assim que começou a nossa tarde. Porque, depois duns meros 20 e muitos graus às 8 da manhã – quando saímos da nossa casa, deixando-a a arejar com as janelas escancaradas para trás – choveu. E dizer choveu é estar a brincar. É tão mentira quanto dizerem que eu sou alta - podem ver o calibre da intrujice.
Relampejou como se o Senhor lá de cima estivesse a tirar fotografias à malta com um grande flash, choveram bolas de golfe a jeito de granizo e a chuva, vá, era mais que muita. Qual dilúvio, qual quê. A Polska é que é. E agora também já podemos cantar:
“Moro num país tropical abençoado por Deus e bonito por Natureza”
Porque este país, se não é tropical, é bipolar – eu tenho a certeza que sim e hei-de elaborar uma tese acerca disso.
Mas adiante, que isto da Rita se tornar crente é uma coisa mesmo importante. Como tínhamos deixado a janela aberta e o aquário do nosso Douradinho lindo – meu rico bilu bilu – estava no parapeito, elaborámos 3 hipóteses. Duas vá, que a terceira era milagre, bastante improvável, que é para não dizer absolutamente impossível:
1. As chuvas torrenciais provocaram uma inundação no aquário e o peixinho nadou para fora, tal a quantidade de água que de lá saía (visualizem, por favor);
Havia sempre a variante “lado para o qual o Dourado cai”, podendo esta variar entre o quarto e a rua. Se caísse para o quarto morria asfixiadinho – meu rico filho -, se caísse para a rua morria da queda.
3. Milagre.
E eis que o milagre se deu e o Douradinho estava, impávido e sereno, em cima do armário dos produtos da nossa higiene pessoal. E foi assim que a Rita se converteu.
Estou maravilhada com o comentario da Carlota (fica aqui prometida uma viagem a Barcelona para o proximo ano lectivo) e sinto-me na obrigacao de postar o brilhante conceito por ela construido:
Professorinha: estado de instinto maternal e dom para as manualidades.
Ate para a semana. A nossa viagem vai continuar e nao prometo mais noticias!
NESSA PEQUENA ALDEIA O MENINO ERA EU
E hoje a cantar em cada canção
Trago esse lugar no meu coração
Criança que fui e HOMEM QUE SOU
E nada mudou
E hoje a cantar não posso esquecer
Aquele lugar que me viu nascer
Tão bom recordar aquele cantinho (e a mnemónica da minha querida mãe)
E OS SONHOS DE MENINO
Ainda tens fôlego para me criticares por não ter uma qualquer chamada OBRIGADO PARIS – desculpa Rita, não tenho esse sucesso da emigração portuguesa. INFORTUNIO DO DESTINO, canta-me o MARIDO MAL AMADO, vulgo Tony, quando grita pela sua sorte. AI DESTINO, AI DESTINO. AI DESTINO QUE É O MEU. Faço minhas as suas palavras."
Íamos a Berlim mas o destino assim não o permitiu – “Ai destino, ai destino”, e ai o meu rico Tony, que canta musicas tão lindas. Assim, e depois de alguns dias de descanso em casa, causados por algo com características de gripe (lá estão provações de que falava), fomos passear até Poznan, que o Erasmus é para isso e as férias escolares são preciosas.
Adiante. Depois de umas meras 6 horas de comboio, sem percalços a assinalar, chegámos ao nosso destino. Uma vez que somos moças responsáveis e não tínhamos marcado lugar na residência – não tendo, consequentemente, lugar para lá ficar -, mais coisa menos coisa, e com a ajuda do Posto de Turismo local, fomos parar a casa de uma velha – e está aí a verdadeira razão para este blog se chamar “Do Arco da Idosa”. Porque não era uma velha qualquer, era uma Velhota Idosa – e até vou citar um trecho dum poema outrora feito:
“Estava uma Velhota Idosa
A olhar pela janela
Coitadinha, pobre dela,
O que havia de suceder
Deu-lhe um baque na trombose
Foi-se a boca para a direita
Escorregou, tombou-se a velha
Sobre a janela desfeita”
Não, não lhe tinha dado uma trombose. Antes isso e ela tivesse ficado incapaz de receber gente em sua casa. Ou se calhar deu e a senhora ficou paralisadinha das mãos e do corpo e daí advém o pó acumulado há anos naquela casa.
Ora mas continuemos a descrição da velhota, até porque eu, não sendo uma pessoa estranha à questão, sei bem do que falo. Assemelhava-se a senhora – ou bruxa porque, para além de tudo o resto, ainda se fazia acompanhar por um gato que se passeava lá por casa – à má da Hansel e Gretel, à Bruxa da Bela e do Mostro (essa monstra que enfeitiçou a rosa), quiçá à Madrasta da Gata Borralheira ou mesmo ao Lobo Mau, que comia crianças pequeninas – e está justificada a presença destas duas últimas personagens em posters que decoravam o quarto que nos foi cedido.
Era gentil connosco, oferecia-nos chá e café constantemente, os quais recusávamos sempre: de certeza que tinham veneno.
Ouvia música que não lembrava a ninguém, mais ou menos, vá… pelo menos à noite, quando se ouviam uns cânticos em que umas senhoras (ou bruxas, como ela) gemiam sem parar.
À entrada da casa havia sempre um agradável cheiro a criação, que nem a Malveira às quintas, quando há feira. O panorama era mais ou menos este, citando Gabriel Garcia Marquez:
“ (…) mal sobrava um resquício sem odor naquele ar de rosas revolvido com a pestilência que nos chegava do fundo do jardim e a emanação de galinheiro e o fedor a bosta e fermentos de urinas (…)”
Decorava a casa com um bonito papel de parede, aproveitado também para forrar armários e até a banheira, por onde não corria nem um pingo de água quente – é.
Guardava religiosamente - e este é sempre um termo adequado para esta região, quanto mais não seja porque tínhamos um lindo terço a abençoar-nos os aposentos – mantas capazes de estancar o sangue das suas vítimas. Neste caso, seríamos nós. Descansem, seria uma “morte santa” na companhia das cruzes e dos restantes artefactos religiosos.
Acabámos por não falecer nesse bonito lar em Poznan – fica para uma próxima vez. Mas ninguém me tira da ideia que a intenção dela era retirar-nos os órgãos para tráfico, claro está, embrulhando de seguida os nossos corpos nas mantas que enchiam os armários, dando depois sumisso aos corpos… ficariam o gato e o Jesus pregado na cruz para contarem a história.